quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Transtorno de Pânico (Síndrome do Pânico)

O artigo de hoje é sobre o Transtorno de Pânico (TP), uma condição muitas vezes incapacitante. É comum em clínicas médicas gerais – como cardiologia, neurologia, doenças respiratórias – onde pode não ser diagnosticado.


O TP tende a iniciar desde o fim da adolescência até por volta dos 30 anos, é três vezes mais comum em mulheres e há um risco 8 vezes maior de ocorrer em parentes em 1º grau de indivíduos já diagnosticados.


O que é um Ataque de Pânico?
                Ataques de pânico podem ocorrer em diversos transtornos mentais e, em alguns casos, em pessoas que não apresentam nenhum tipo de diagnóstico. 

                É um período bem distinto, sendo fácil de perceber o começo e o fim da crise, que começa de repente, atinge um pico rapidamente (mais ou menos 10 minutos), de muito medo ou desconforto. Pode vir junto uma sensação de perigo, catástrofe, necessidade de fugir, perder o controle, ter um derrame, um ataque cardíaco, entre outras.

                Junto disso, quatro ou mais dos seguintes sintomas:
- palpitações                                         - tontura ou sensação de desmaio
- sudorese                                             - sensações de perda da realidade
- tremores                                             - medo de perder o controle ou enlouquecer
- falta de ar                                            - medo de morrer
- sensação de asfixia                           - formigamentos
- dor no peito                                        - calafrios ou ondas de calor
- enjoo ou dor abdominal


O que é Agorafobia?
                A agorafobia é a ansiedade relacionada a estar em situações ou locais dos quais poderia ser difícil escapar ou onde poderia não existir auxílio caso ocorresse um ataque de pânico (ou algum de seus sintomas).

                Em geral, o indivíduo que sofre de agorafobia teme várias situações, como: ficar fora de casa sozinho, multidões, filas, viajar (de ônibus, carro, trem, etc) e outras. Por causa disso, a maioria dos pacientes evita estas situações quando não tem companhia ou passa por elas com muito sofrimento e medo de ter crises ou sintomas.


 O que é Transtorno de Pânico (TP)?
                 A característica do TP é a ocorrência de ataques de pânico repetidos e inesperados (vindos “do nada”). Além disso, a pessoa fica preocupada em ter novos ataques, tem medo de consequências que acredita que eles possam causar (p. ex.: que pode ter um ataque cardíaco) ou muda seu comportamento após ter o ataque de pânico.

                O TP pode cursar com ou sem agorafobia.


Transtornos mentais associados (Comorbidades)
                É muito comum que outros transtornos psiquiátricos estejam presentes no caso dos pacientes com TP.

                Uma das comorbidades mais comuns é a Depressão, com taxas variando entre 10 a 65% dos pacientes com TP também sendo diagnosticados com depressão. Em dois terços dos casos, a depressão foi diagnosticada depois do TP já estar presente.

                 Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ocorre em 15 a 30% dos indivíduos e aproximadamente 30% desenvolvem pelo menos um Transtorno por Uso de Substância (álcool e outras drogas) ao longo da vida.


Tratamento
                O tratamento de primeira linha para o TP inclui algumas classes de medicações e a terapia cognitivo comportamental (TCC). 

                Cada paciente tem uma resposta; portanto, é necessário o acompanhamento regular, até concluir as etapas do tratamento. 



                O Transtorno de Pânico afeta cada indivíduo de forma muito particular, dependendo não só da intensidade de suas crises ou da preocupação que elas provocaram, mas também do atendimento que receberam e quanto tempo levou até que fosse diagnosticado. Se todas as possibilidades orgânicas (ataque cardíaco, problemas pulmonares, etc) já foram excluídas, uma avaliação especializada está indicada.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Transtorno Bipolar

                Hoje vou falar sobre um transtorno psiquiátrico que vem ganhando cada vez mais atenção, mas muitas vezes de forma equivocada. Espero que este artigo ajude a compreender melhor o que é o Transtorno Bipolar. 

                A chance de desenvolver Transtorno Bipolar ao longo da vida é de 1% e não há diferença entre homens e mulheres. O risco é bem menor do que para a Depressão (15%).


O que é Mania?
                Para entender o que é o Transtorno Bipolar (TB), primeiro é preciso conhecer o quadro chamado de Mania. Um episódio maníaco é praticamente o contrário de um episódio depressivo.

O paciente fica com o humor muito elevado, eufórico, incomumente bom, às vezes alternando com irritação excessiva – isto é percebido claramente por quem conhece o indivíduo, embora ele ache que está ótimo. A auto-estima também fica aumentada, levando a pessoa a fazer coisas que normalmente não faria, como escrever livros sobre assuntos que não domina ou conversar longamente com estranhos na rua.

O sono diminui muito e a energia aumenta, assim como a vontade de falar e a velocidade da fala, muitos dizem que os pensamentos correm. A maioria se envolve em diversas atividades, muitas vezes perigosas, por deixar de pensar nos riscos. Costuma haver um aumento da sociabilidade, da sexualidade, das compras (mesmo sem dinheiro para pagar), direção imprudente e vários outros comportamentos incomuns para a pessoa.

                Podem ocorrer sintomas psicóticos, como delírios de grandeza – por exemplo: crença de que é o presidente. Esta perda da realidade reverte totalmente com a melhora dos demais sintomas.

                Em um episódio maníaco, há um prejuízo muito importante nas atividades normais do indivíduo, sendo necessário afastamento das mesmas e, muitas vezes, internação hospitalar.

                O episódio Hipomaníaco é uma forma mais leve de mania, em que não ocorre tanto prejuízo para as atividades habituais do indivíduo.

                O episódio Misto é aquele em que ocorrem os sintomas de Mania e de Depressão juntos.       


O que é Transtorno Bipolar (TB)?
                O TB tipo I é aquele em que ocorrem um ou mais episódios Maníacos ou Mistos. É muito comum que também tenham ocorrido um ou mais episódios Depressivos (80-90% dos pacientes). 

                O TB tipo II é aquele em que ocorrem um ou mais episódios Depressivos e pelo menos um episódio Hipomaníaco.


O que causa o TB?
                Estudos genéticos feitos até o momento sugerem que parentes em primeiro grau de portadores do TB têm um risco quase 10 (dez) vezes maior do que a população geral de apresentar o transtorno. 

                Além da influência genética, estudam-se alterações na estrutura cerebral, nos neutransmissores (comunicação entre os neurônios), em processos inflamatórios do organismo e em fatores de estresse.


Como é feito o tratamento?
                Há diversos medicamentos disponíveis para o tratamento do Transtorno Bipolar. Todos buscam a estabilidade do humor: quando não se está nem deprimido, nem em mania ou hipomania. 


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dia Mundial Sem Tabaco – 31 de Maio


O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e ocorre todos os anos, no dia 31 de maio. Este ano, o tema é a influência da indústria do tabaco na saúde pública.

No Brasil, em 14 de março de 2012, após mais de um ano de discussões com a indústria do tabaco, a Agência Nacional de Vigilância em Saúde (ANVISA) proibiu a adição de aromatizantes nos cigarros. 

Aproximadamente 20% das pessoas vão se tornar dependentes da nicotina em algum momento de suas vidas, sendo este o transtorno psiquiátrico mais comum. Espero que este texto possa trazer mais informações sobre este transtorno e seu tratamento.


O tabagismo em números
Segundo a OMS, 22% da população mundial com mais de 15 anos de idade - aproximadamente 1 bilhão e 500 milhões de indivíduos - são fumantes. Além disso, ocorre um total de 5 milhões de mortes por ano (10 mil mortes por dia) por uso de tabaco ou exposição à sua fumaça.

O tabagismo é um transtorno que inicia na adolescência: 90% dos adultos dependentes de nicotina começaram a fumar antes dos 18 anos e 99% deles, antes dos 26 anos de idade. 

No Brasil, mais de 17 mil estudantes de 13 a 15 anos foram entrevistados. Mais de 30% deles já fumaram. A preferência por cigarros com sabor é de até 58%.

Devido ao início do tabagismo na adolescência eà presença do aromatizante como facilitador do uso, foi feita a proibição da ANVISA para cigarros com sabor em nosso país.

Em torno de 80% dos fumantes desejam parar, sendo que 5% conseguem sem qualquer ajuda e este número aumenta para 35% quando recebem auxílio. Menos de 25% dos indivíduos conseguem parar na primeira tentativa. A maioria tenta de 5 a 10 vezes até que 50% dos fumantes conseguem parar definitivamente.


Riscos do uso
O cigarro é a primeira causa de mortes evitáveis no mundo. Ele está direta ou indiretamente relacionado a diversos tipos de doenças.

- Câncer: 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em fumantes; também câncer na boca, esôfago, rins, bexiga, pâncreas

- Problemas cardíacos e de vasos sanguíneos: infarto, coágulos para pulmão e pernas, derrame cerebral, pressão alta, problemas de ereção

- Enfisema, bronquite, asma

-Abortos, bebês com baixo peso, infertilidade

- Diversos prejuízos para a saúde de quem fica exposto à fumaça do seu cigarro
-E outros, como dificuldade para cicatrização


Benefícios de parar de fumar
- 20 minutos: pressão e batimentos cardíacos voltam ao normal

- 8 horas: nível de oxigênio do sangue volta ao normal

- 24 horas: risco de morte súbita diminui

- 48 horas: olfato e paladar começam a retornar

- 2 semanas a 3 meses: menos falta de ar, melhora da cicatrização

- 1 ano: reduz pela metade o risco de infarto

- 10 anos: reduz o risco de câncer


Como parar
A maioria dos fumantes têm medo de se sentir mal (abstinência), de perder as sensações agradáveis que têm com o cigarro e de engordar. Há diversas formas de aliviar estes sintomas desagradáveis com orientação adequada. 

Nosso país dispõe de um programa nos postos de saúde para ajudar as pessoas a parar de fumar. Um profissional habilitado também pode ser consultado na rede particular. 

O importante é informar-se, esclarecer todas as dúvidas. Muitos casos de falha em parar ocorrem por falta de orientação.

sábado, 28 de abril de 2012

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

                No artigo anterior, falei sobre a ansiedade como experiência normal de todos os seres humanos. Agora, vou escrever sobre a ansiedade que se torna uma patologia, aquela ansiedade que passou do normal e começou a prejudicar suas vidas. 

A chance de uma pessoa desenvolver  Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ao longo da vida é de aproximadamente 5%, bastante alta. Entretanto, estima-se que apenas um terço dos indivíduos que sofrem de TAG procuram o psiquiatra para tratamento.


                O que é TAG?
No TAG, a ansiedade é persistente, excessiva, relacionada a vários aspectos da vida (trabalho, família, vida social), ocorre quase todos dias e afeta a vida da pessoa de forma negativa. Apesar de sentir que a ansiedade é excessiva, exagerada para a situação que a provoca, o indivíduo a descreve como difícil de controlar.

A preocupação, em geral, vem em forma de uma apreensão ou sensação constante de que algo negativo ou “o pior” vai acontecer. As situações comuns do dia-a-dia são quase todas vividas dessa forma. Se alguma coisa pode dar errado ou certo, “vai dar errado”. A pessoa se sente ansiosa porque os amigos vêm à noite jantar, quando vai fazer um exame médico, se o filho sai de carro, enfim, é constante a preocupação.

Junto com a ansiedade, há sintomas físicos, que podem variar ao longo do tempo: tremores, tensão muscular, cansaço, dor de cabeça, palpitações, suores, tonturas, ondas de frio ou calor, falta de ar, irritação, insônia, dificuldade para se concentrar, “brancos” na mente, alterações gastrointestinais (como diarréia).

Por causa desses sintomas físicos, a maioria dos pacientes procura clínicos gerais, cardiologistas, gastroenterologistas e outras especialidades médicas em vez do psiquiatra para o tratamento.

Os primeiros sintomas do TAG geralmente surgem no final da adolescência ou início da vida adulta, podendo se tornar crônicos.  É muito comum os pacientes dizerem “sempre fui assim”, por já nem lembrarem de uma época em que não eram ansiosos.


Quais os riscos de ter TAG?
Quando uma pessoa tem TAG, o risco de ter algum outro transtorno psiquiátrico é de 50 a 90%. É muito frequente os pacientes com TAG só chegarem ao consultório depois que desenvolveram depressão ou pânico, por exemplo.

Além do pânico e da depressão, há um risco elevado de desenvolver abuso ou dependência de álcool e drogas (por exemplo, o paciente que bebe para aliviar a ansiedade).

A presença do TAG também parece aumentar o risco de desenvolver problemas cardíacos, gastrointestinais, endocrinológicos (como diabetes), pulmonares e dores crônicas.


O que causa o TAG?
Não há uma única causa definida para o TAG. Vários fatores associam-se para o desenvolvimento do transtorno. Acredita-se que um conjunto de: traços de personalidade e temperamento (indivíduos com uma predisposição mais ansiosa), alterações em neurotransmissores cerebrais, fatores genéticos e situações de vida.


Existe tratamento?
Atualmente, o tratamento indicado para o TAG é uma combinação de medicação e alguma forma de psicoterapia (há vários tipos).

O tempo de tratamento varia para cada paciente, por isso deve ser feito um acompanhamento adequado, tanto com o psiquiatra quanto com o psicólogo (terapia).



Neste artigo, abordei um transtorno psiquiátrico que, apesar de afetar muito a qualidade de vida das pessoas, ainda recebe pouca atenção e tratamento. O sintomas do TAG - tanto físicos quanto psíquicos - são tratáveis desde que sejam diagnosticados corretamente.

sábado, 21 de abril de 2012

Ansiedade normal ou patológica?


Na psiquiatria, há uma série de transtornos relacionados a alterações da ansiedade. Entretanto, a ansiedade, o medo e a angústia nem sempre são doenças. São vivências humanas e fazem parte da experiência de todos nós. 

É importante fazer a distinção entre a ansiedade patológica e a normal, porque os transtornos de ansiedade causam diversos prejuízos à saúde e à qualidade de vida. Além disso, são altamente prevalentes ao longo da vida. Para as mulheres, a probabilidade de desenvolver algum tipo de transtorno de ansiedade é de 30% e para os homens, 19%.


Quando a ansiedade é normal?
A ansiedade é uma sensação desagradável de inquietação interna, agitação, geralmente relacionada a algo que vai acontecer e deixa a pessoa apreensiva. Ela é considerada um sinal de alerta normal, que permite ao indivíduo tomar as medidas necessárias para se proteger – contra dor, frustração, separação de entes queridos e outras ameaças percebidas. Geralmente, sensações físicas ocorrem junto, aumentando o desconforto – palpitações, falta de ar, tremores, tensão muscular, tonturas, diarréia, formigamentos, entre outros. 

A angústia é um sentimento mais forte. É um aperto ou pressão no peito, uma sensação de que a pessoa vai sufocar. Ela pode ser bem intensa e durar pouco tempo ou ser mais leve, porém constante. 

O medo costuma ser mais objetivo. Tem-se medo de alguma coisa, de uma ameaça conhecida. É um sentimento normal e que nos protege, precisamos ter medo do que é, de fato, perigoso. É patológico em casos como o das crises de pânico, em que o medo vem de de forma abrupta e muito intensa, porém de curta duração, mas sem causa específica. 


Quais são os transtornos de ansiedade?
Exemplos de transtornos de ansiedade conhecidos são: transtorno de pânico, fobia específica (medo de pegar avião ou entrar no elevador, por exemplo), fobia social, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG).


Devido à grande quantidade de transtornos de ansiedade, não vou fazer uma série de artigos sobre eles (como fiz sobre a Depressão). Inicialmente, vou escrever sobre o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) no próximo artigo.