sábado, 28 de abril de 2012

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

                No artigo anterior, falei sobre a ansiedade como experiência normal de todos os seres humanos. Agora, vou escrever sobre a ansiedade que se torna uma patologia, aquela ansiedade que passou do normal e começou a prejudicar suas vidas. 

A chance de uma pessoa desenvolver  Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ao longo da vida é de aproximadamente 5%, bastante alta. Entretanto, estima-se que apenas um terço dos indivíduos que sofrem de TAG procuram o psiquiatra para tratamento.


                O que é TAG?
No TAG, a ansiedade é persistente, excessiva, relacionada a vários aspectos da vida (trabalho, família, vida social), ocorre quase todos dias e afeta a vida da pessoa de forma negativa. Apesar de sentir que a ansiedade é excessiva, exagerada para a situação que a provoca, o indivíduo a descreve como difícil de controlar.

A preocupação, em geral, vem em forma de uma apreensão ou sensação constante de que algo negativo ou “o pior” vai acontecer. As situações comuns do dia-a-dia são quase todas vividas dessa forma. Se alguma coisa pode dar errado ou certo, “vai dar errado”. A pessoa se sente ansiosa porque os amigos vêm à noite jantar, quando vai fazer um exame médico, se o filho sai de carro, enfim, é constante a preocupação.

Junto com a ansiedade, há sintomas físicos, que podem variar ao longo do tempo: tremores, tensão muscular, cansaço, dor de cabeça, palpitações, suores, tonturas, ondas de frio ou calor, falta de ar, irritação, insônia, dificuldade para se concentrar, “brancos” na mente, alterações gastrointestinais (como diarréia).

Por causa desses sintomas físicos, a maioria dos pacientes procura clínicos gerais, cardiologistas, gastroenterologistas e outras especialidades médicas em vez do psiquiatra para o tratamento.

Os primeiros sintomas do TAG geralmente surgem no final da adolescência ou início da vida adulta, podendo se tornar crônicos.  É muito comum os pacientes dizerem “sempre fui assim”, por já nem lembrarem de uma época em que não eram ansiosos.


Quais os riscos de ter TAG?
Quando uma pessoa tem TAG, o risco de ter algum outro transtorno psiquiátrico é de 50 a 90%. É muito frequente os pacientes com TAG só chegarem ao consultório depois que desenvolveram depressão ou pânico, por exemplo.

Além do pânico e da depressão, há um risco elevado de desenvolver abuso ou dependência de álcool e drogas (por exemplo, o paciente que bebe para aliviar a ansiedade).

A presença do TAG também parece aumentar o risco de desenvolver problemas cardíacos, gastrointestinais, endocrinológicos (como diabetes), pulmonares e dores crônicas.


O que causa o TAG?
Não há uma única causa definida para o TAG. Vários fatores associam-se para o desenvolvimento do transtorno. Acredita-se que um conjunto de: traços de personalidade e temperamento (indivíduos com uma predisposição mais ansiosa), alterações em neurotransmissores cerebrais, fatores genéticos e situações de vida.


Existe tratamento?
Atualmente, o tratamento indicado para o TAG é uma combinação de medicação e alguma forma de psicoterapia (há vários tipos).

O tempo de tratamento varia para cada paciente, por isso deve ser feito um acompanhamento adequado, tanto com o psiquiatra quanto com o psicólogo (terapia).



Neste artigo, abordei um transtorno psiquiátrico que, apesar de afetar muito a qualidade de vida das pessoas, ainda recebe pouca atenção e tratamento. O sintomas do TAG - tanto físicos quanto psíquicos - são tratáveis desde que sejam diagnosticados corretamente.

sábado, 21 de abril de 2012

Ansiedade normal ou patológica?


Na psiquiatria, há uma série de transtornos relacionados a alterações da ansiedade. Entretanto, a ansiedade, o medo e a angústia nem sempre são doenças. São vivências humanas e fazem parte da experiência de todos nós. 

É importante fazer a distinção entre a ansiedade patológica e a normal, porque os transtornos de ansiedade causam diversos prejuízos à saúde e à qualidade de vida. Além disso, são altamente prevalentes ao longo da vida. Para as mulheres, a probabilidade de desenvolver algum tipo de transtorno de ansiedade é de 30% e para os homens, 19%.


Quando a ansiedade é normal?
A ansiedade é uma sensação desagradável de inquietação interna, agitação, geralmente relacionada a algo que vai acontecer e deixa a pessoa apreensiva. Ela é considerada um sinal de alerta normal, que permite ao indivíduo tomar as medidas necessárias para se proteger – contra dor, frustração, separação de entes queridos e outras ameaças percebidas. Geralmente, sensações físicas ocorrem junto, aumentando o desconforto – palpitações, falta de ar, tremores, tensão muscular, tonturas, diarréia, formigamentos, entre outros. 

A angústia é um sentimento mais forte. É um aperto ou pressão no peito, uma sensação de que a pessoa vai sufocar. Ela pode ser bem intensa e durar pouco tempo ou ser mais leve, porém constante. 

O medo costuma ser mais objetivo. Tem-se medo de alguma coisa, de uma ameaça conhecida. É um sentimento normal e que nos protege, precisamos ter medo do que é, de fato, perigoso. É patológico em casos como o das crises de pânico, em que o medo vem de de forma abrupta e muito intensa, porém de curta duração, mas sem causa específica. 


Quais são os transtornos de ansiedade?
Exemplos de transtornos de ansiedade conhecidos são: transtorno de pânico, fobia específica (medo de pegar avião ou entrar no elevador, por exemplo), fobia social, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG).


Devido à grande quantidade de transtornos de ansiedade, não vou fazer uma série de artigos sobre eles (como fiz sobre a Depressão). Inicialmente, vou escrever sobre o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) no próximo artigo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Depressão

Para iniciar este blog, escrevi uma série sobre Depressão. Os artigos abordam dúvidas que surgem com frequência no consultório: quais são os sintomas, o que está provocando a depressão, como tratá-la, quais as chances de ela voltar, entre outros.

Espero que estes artigos possam esclarecer algumas dessas questões. Se outras ficaram em aberto ou novas perguntas surgirem durante a leitura, fico à disposição para responder.

Aqui estão os links:
Primeira parte - Depressão: Sintomas
Segunda parte - Depressão: Causas e Recaídas
Terceira parte - Depressão: Diagnóstico e Tratamento

Depressão: Diagnóstico e Tratamento



Há alguma outra coisa que pode se parecer com a depressão?

Sim. 

Doenças do organismo, que não são da mente, podem se manifestar como um quadro de depressão. Às vezes elas ocorrem juntas e as doenças do organismo agravam a depressão; o contrário também pode acontecer. 

Uso de certos medicamentos pode provocar depressão.

Outros problemas psiquiátricos podem parecer um quadro depressivo ou iniciar como tal (por exemplo, a bipolaridade).


                Se for diagnosticada a depressão, qual vai ser o tratamento?

                Os principais tipos de tratamento para a depressão são os medicamentos e as psicoterapias (estas não serão abordadas neste artigo). Somente o seu médico pode determinar qual é o tratamento mais adequado para você.

                O tratamento medicamentoso é indicado para a maior parte dos casos de depressão corretamente diagnosticada. Tanto os sintomas psicológicos quanto os biológicos da depressão melhoram com o uso correto das medicações. Como já falamos, uma vez iniciado o processo depressivo, apenas o tratamento adequado vai revertê-lo da melhor forma possível.

                A escolha do antidepressivo correto vai depender de vários fatores, como por exemplo: outras doenças que você tenha, alterações do sono, alterações do apetite, medicamentos que faça uso contínuo. 

                É importante saber que todo antidepressivo leva mais ou menos duas semanas para começar a funcionar. Nessas primeiras duas semanas, você pode sentir efeitos colaterais, que vão variar conforme o medicamento. Eles costumam ser leves e melhorar logo. Caso sejam fortes ou continuem depois destas duas semanas, converse com o seu médico para mais orientações, não interrompa o tratamento por conta própria. 

                A partir dessas duas semanas iniciais, você vai melhorar aos poucos, até voltar ao normal. O seu médico e sua família vão lhe ajudar nessa fase, para saber o que melhorou, quanto melhorou, quanto ainda falta para voltar a como era antes.

                Podem ser necessários ajustes na dose da sua medicação ou, até mesmo, troca por outro remédio se ele não fizer efeito. Isto é normal. O importante é que você sempre informe ao seu psiquiatra se não estiver sentindo melhora ou se algum efeito do remédio estiver lhe incomodando, para que ele possa lhe ajudar.

               
Por quanto tempo tenho que tomar a medicação?

Isto é variável. Primeiro, você e seu médico farão todos os ajustes de medicação necessários para que você fique bem novamente, como antes da depressão. 

Depois disso, seu médico vai lhe orientar de acordo com alguns fatores, como: se foi a primeira vez que você ficou deprimido ou se já teve depressão outras vezes (quantas?), se teve recaídas durante o tratamento, quanto tempo durou sua última depressão, entre outros.


Neste artigo, procurei explicar melhor algumas condições que devem ser diferenciadas da depressão para que seja feito o diagnóstico correto.  Seguindo o diagnóstico, o fundamental é tratar a depressão corretamente, prevenindo as graves consequências para a saúde e a vida da pessoa causadas por este transtorno.

Para compreender melhor, você pode ler os artigos anteriores desta série:
Primeira parte: Depressão: Sintomas
Segunda parte: Depressão: Causas e Recaídas

Depressão: Causas e Recaídas


O que causa a depressão?

Esta é outra dúvida muito frequente no consultório. Tanto os familiares quanto o paciente nos questionam porque a depressão começou e se, removendo a causa, ela se resolverá

A depressão é um transtorno psiquiátrico com múltiplas causas, não sendo possível indicar apenas um fator causador. É uma combinação de fatores que ocorrem num certo momento da vida da pessoa que vai levá-la a desenvolver uma depressão.             


Quais são estes fatores?

- Acontecimentos na vida: um evento estressante costuma estar associado ao primeiro episódio depressivo. Os próximos episódios tendem a começar espontaneamente, sem acontecimentos causadores. O primeiro quadro de depressão também pode começar sozinho, o que causa muita confusão para o paciente e sua família, que ficam com a dúvida “se está tudo bem, por que ele(a) está assim?”.  Exemplos de eventos estressantes: perda de entes queridos, pouco apoio da família e amigos, abuso físico/sexual na infância, desemprego, separação, entre outros.

- Genéticos: a chance de ter depressão aumenta de 2 a 3 vezes se a pessoa tiver um parente de primeiro grau já afetado. Acredita-se que a influência genética seja de até 50%, ficando o restante para os outros fatores (estressores, ambientais, etc).

- Ambientais: dieta, uso de álcool, uso de drogas, remédios para emagrecer.

- Biológicos: alterações na comunicação entre os neurônios (neurotransmissores cerebrais), alterações do sono e da regulação do relógio interno (ritmo circadiano).

- Psicológicos: personalidade, relacionamentos interpessoais (com outras pessoas).

                Como podemos perceber, alguns destes fatores não temos como mudar (a genética e o funcionamento do cérebro). Outros são mais facilmente modificáveis, como o uso de álcool e drogas. Mas o que fazer em relação aos acontecimentos de vida e aos relacionamentos, muitas vezes difíceis, com outras pessoas? Aí é que surge outra pergunta frequente:



                Se pudermos eliminar estes fatores de estresse, a depressão vai passar sozinha?

                É importante lembrar que muitos dos fatores de estresse envolvidos com o início de episódios depressivos resolvem-se por si sós, com o passar do tempo, como a perda de um ente querido. Não é algo que possa ser “removido”. 

Talvez isto ajude a compreender que uma depressão não tratada, independente de removermos/melhorarmos os fatores causadores, dura de 6 meses a um ano. Quando tratada, tende a durar 3 meses. 

Independente do que causou a depressão, depois que a pessoa já está deprimida, é muito importante iniciar o tratamento. Os sintomas vão melhorar muito mais rápido, aliviando o sofrimento, diminuindo o risco de suicídio e melhorando a qualidade de vida. Além disso, o tratamento previne as recaídas e também a depressão crônica.


Qual é a diferença entre recaída, recorrência e depressão crônica?

A recaída é o que ocorre quando o paciente volta a apresentar sintomas quando estava se recuperando ou já estava bem por até seis meses. Isto ocorre por diversos motivos, por exemplo ao parar de tomar o medicamento antes do recomendado pelo médico.

No caso da recorrência, o paciente ficou mais de 6 meses sem sintomas e depois voltou a apresentar o quadro depressivo. Às vezes ela acontece enquanto o paciente ainda está em tratamento e, outras, muitos anos depois.

As recorrências são comuns nos pacientes com depressão. Mais ou menos 25% das pessoas voltam a ter depressão dentro de 6 meses. Se um paciente já teve depressão duas vezes, há 70% de chance de ter uma terceira vez. 

A depressão é considerada crônica quando o paciente apresenta sintomas contínuos por, pelo menos, dois anos. 


Neste artigo, quis ressaltar os diversos fatores que causam a depressão. Além disso, alertar para o fato de que quem já teve depressão antes tem mais risco de ter novamente, sendo muito importante manter um acompanhamento médico adequado.
Os outros artigos da série são:
Primeira parte: Depressão: Sintomas
Terceira parte: Depressão: Diagnóstico e Tratamento

Depressão: Sintomas


A depressão é um transtorno psiquiátrico muito comum e também ainda pouco compreendido, tanto pelos pacientes quanto por seus familiares. 

A chance de ter depressão ao longo da vida é de aproximadamente 15%. O risco é duas a três vezes maior para as mulheres do que para os homens.

As crises depressivas podem iniciar em qualquer momento da vida, desde a infância até a terceira idade. 


Quais são os sintomas da depressão?

O paciente começa a se sentir triste e vazio, pode chorar muito, perde o interesse e o prazer que sentia por suas atividades diárias, mesmo aquelas que mais gostava. Esta perda de interesse pelas atividades é frequentemente confundida com preguiça, o que pode gerar conflitos com quem convive com o paciente. A pessoa se sente agoniada e sem esperanças, é uma tristeza diferente das outras que sentiu antes. A maioria (90%) tem muita ansiedade. Muitos ficam irritados.

O apetite muda (aumenta ou diminui) e o peso também (conforme a mudança do apetite, para mais ou para menos).

O sono é um dos primeiros a mudar e 80% dos pacientes sofrem com alterações do mesmo. A pessoa não dorme direito, acorda várias vezes de madrugada e fica pensando nos problemas, acorda mais cedo do que o normal e passa o dia todo cansada, sem energia pra nada. Chega a noite, o ciclo recomeça, sem conseguir pegar no sono outra vez. Alguns pacientes se queixam de dormir demais, mas também permanecem muito cansados. 

A pessoa fica perceptivelmente mais lenta. Os familiares se queixam que o paciente demora para responder, fazer as coisas, se distrai, fica indeciso. O paciente não consegue se concentrar como antes, fica esquecido. O esquecimento é uma queixa muito comum – compromissos, onde colocou as chaves, ir e voltar no mesmo lugar várias vezes e não lembrar o que foi fazer, ler e esquecer o que acabou de ler, entre outros exemplos. 

É muito comum o sentimento de culpa. Muitos acham que são um peso para a família, acreditam estar incomodando, culpam-se por atos do passado, por se sentirem inúteis. 

Até dois terços dos pacientes têm pensamentos sobre suicídio e entre 10 a 15% o cometem. Ao contrário do que muitos acreditam, as pessoas que já tentaram suicídio têm um risco maior de morrerem por suicídio no futuro. 


Nos próximos artigos desta série sobre depressão, vou falar sobre causas e tratamentos da mesma. Entretanto, gostaria de ressaltar desde já que esta é um transtorno psiquiátrico grave, devendo receber tratamento adequado o mais cedo possível.

Segunda parte: Depressão: Causas e Recaídas
Terceira parte: Depressão: Diagnóstico e Tratamento